Com mais de 260 obras entre retratos famosos de artistas como Pixinguinha e Clementina de Jesus, ou até de Jânio Quadros e Juscelino Kubitschek, a mostra Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito chega ao IMS Paulista para celebrar a carreira do fotojornalista que desafiou a prática fotográfica criando uma linguagem própria e imponente.

Retratando as inúmeras manifestações culturais e religiosas do Brasil ou atuando como correspondente internacional da revista Manchete, a exposição traz uma seleção intensa de fotos do carioca.

Exposição com retrospectiva da carreira de Walter Firmo chega ao IMS Paulista (Foto: Walter Firmo/Acervo IMS)

 

A curadoria da mostra é de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, e da curadora adjunta Janaina Damaceno Gomes, coordenadora do Grupo de Pesquisas Afrovisualidades: Estéticas e Políticas da Imagem Negra. Com entrada gratuita, dois andares do centro cultural exibem 266 fotografias de Firmo desde a década de 1950, e trazem imagens fotografadas em diversas regiões do país.

A partir de diversos núcleos temáticos, as salas mostram a experimentação do artista ao longo de sua carreira e o amadurecimento de seus retratos, que exaltam a importância da negritude. "Acabei colocando os negros em uma atitude de referência no meu trabalho, fotografando os músicos, os operários, as festas folclóricas, enfim, toda a gente. A vertigem é em cima deles. De colocá-los como honrados, totens, como homens que trabalham, que existem. Eles ajudaram a construir esse país para chegar aonde ele chegou”, enaltece Walter Firmo.

Exposição com retrospectiva da carreira de Walter Firmo chega ao IMS Paulista (Foto: Walter Firmo/Acervo IMS)

 

 

No primeiro núcleo você encontra cerca de 20 retratos em grande formato produzidas ao longo de toda sua carreira. Já no segundo, destaque para a biografia do fotógrafo, abordando os seus primeiros anos de atuação na imprensa, quando registrou temas do noticiário, em imagens em preto e branco. 

É evidente como Firmo se distancia do fotojornalismo documental e aposta em um olhar autoral, em diálogo com a pintura e o cinema, indo muitas vezes em direção à encenação das cenas. "A fotografia, para mim, reside naqueles instantes mágicos em que eu posso interpretar livremente o imponderável, o mágico, o encantamento. Nos quais o deslumbre possa se fazer através de luzes, backgrounds, infindáveis sutilezas, administrando o teatro e o cinema nesse jogo de sedução", explica.

Exposição com retrospectiva da carreira de Walter Firmo chega ao IMS Paulista (Foto: Walter Firmo/Acervo IMS)

 

A exposição ainda conta com fotos inéditas, e com o curta-metragem Pequena África (2002), do cineasta Zózimo Bulbul, no qual Firmo trabalhou como diretor de fotografia. O filme trata da história da região que dá nome ao título, área da zona portuária do Rio que recebeu milhões de africanos escravizados. Imperdível!

Exposição com retrospectiva da carreira de Walter Firmo chega ao IMS Paulista (Foto: Walter Firmo/Acervo IMS)

 

"Walter Firmo incorporou desde cedo em sua prática fotográfica a noção da síntese narrativa de imagem única, elaborada através de imagens construídas, dirigidas e, muitas vezes, até encenadas. Linguagem própria que, tendo como substrato sua consciência de origem – social, cultural e racial –, desenvolve-se amalgamada à percepção da necessidade de se confrontar e se questionar os cânones e limites da fotografia documental e do fotojornalismo. Em um sentido mais amplo, questionar a própria fotografia como verossimilhança ou mera mimese do real", complementa Sergio Burgi, curador da exposição.

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