Vamos Ver?

VENICE, ITALY - MAY 11:  (EDITORS NOTE: Image has been shot in black and white. Color version not available.) A general view of the Russian pavilion seen at Biennale Giardini on May  11, 2017 in Venice, Italy. The 57th International Art Exhibition of La B (Foto: Getty Images)

 

Com a invasão da Ucrânia, somos lembrados de que, na maioria das vezes, as vidas humanas não são as únicas vítimas da guerra. Obras de arte inestimáveis também tendem a pagar o preço da luta. Especialmente em uma disputa altamente ideológica, onde arte e cultura acabam no centro das coisas e nem sempre conseguem sair.

 

KYIV, UKRAINE - FEBRUARY 24: Inhabitants of Kyiv leave the city following pre-offensive missile strikes of the Russian armed forces and Belarus on February 24, 2022 in Kyiv, Ukraine. Overnight, Russia began a large-scale attack on Ukraine, with explosions (Foto: Getty Images)

 

Durante a Segunda Guerra Mundial, roubos e saques de obras se sucederam em escala massiva, deixando peças de artistas como Raphael, Gustav Klimt e Vincent van Gogh dispersas, sem lar por todo o mundo. Agora, com a guerra na Ucrânia em pleno andamento, a arte mais uma vez se encontra em perigo. Em resposta, artistas e curadores estão se mobilizando para proteger obras preciosas em meio a tanta violência.

Um exemplo é Raimundas Malašauskas, curadora do pavilhão russo na Bienal de Veneza, que desistiu da exposição deste ano. Assim como os artistas Alexandra Sukhareva e Kirill Savchenkov. Suas renúncias podem não mudar o curso da guerra, mas são uma poderosa declaração. O pavilhão russo foi projetado pelo arquiteto Alexey Shchusev e construído entre 1913 e 1914 e, embora tenha sido fechado três vezes desde a sua criação, nunca foi como resposta política a uma guerra em curso. Savchenkov admitiu no Instagram: “Como [artista] nascido na Rússia, não apresentarei meu trabalho em Veneza”. Sua renúncia é por respeito àqueles que tiveram que interromper o trabalho no pavilhão ucraniano. 

Já no país invadido, uma das muitas baixas arquitetônicas é o Historical and Local History Museum de Ivankiv, a noroeste da capital. Soldados russos incendiaram o museu que abrigava 25 obras de Maria Prymachenko, artista folk do século 20, cujo trabalho pode não ser tão conhecido internacionalmente quanto alguns de seus compatriotas, mas Maria Prymachenko é um nome familiar na Ucrânia.

Uma de suas obras serviu como fundo de selos postais no país ao longo da década de 1970. Além disso, 12 anos após sua morte, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) declarou que 2009 seria o ano de Maria Prymachenko. Hoje, muitas de suas criações supercoloridas não passam de cinzas, cobrindo o chão de sua antiga casa, que se tornou apenas uma pilha de escombros. Em resposta aos atos de ódio contra a Ucrânia e suas relíquias culturais, o país pediu à UNESCO que desconsidere a Rússia como membro da organização.

Para os museus que ainda estão de pé, proteger obras de arte é um grande desafio por inúmeras razões. Talvez mais urgentemente, as pessoas que ainda não fugiram de seu amado país estão correndo para se alistar. E aqueles que estão saindo, levam apenas o mínimo: dinheiro, documentos e algo para vestir. Além disso, os cidadãos ucranianos não podem embrulhar uma pintura a óleo centenária e colocá-la entre as malas no carro. Para retirar peças e coleções do país, os museus precisam primeiro obter permissão do governo, o que leva tempo, algo que as autoridades locais não dispõe muito no momento.

ODESA, UKRAINE - SEPTEMBER 3, 2021 - The Hands of Eternity panel by Kharkiv-based monumental artist Roman Minin is the winner of the OFAM WALL competition and now decorates the wall of the flight of stairs between the first and second floors leading to th (Foto: Future Publishing via Getty Imag)

 

No entanto, quando as tensões com a Rússia começaram a se intensificar há algumas semanas, a equipe executiva do Museu da Liberdade de Kiev já arregaçou as mangas e solicitou permissão para transferir obras de valor inestimável para fora do país, mas mais de um mês depois, nada havia sido aprovado. Os funcionários do museu estão procurando desesperadamente instalações de armazenamento na capital para salvá-la, mas pouco foi confirmado. O Museu de Belas Artes de Odessa, a poucos passos do Mar Negro, não tem acesso às instalações de armazenamento de outros museus espalhados pelas cidades maiores, então a segurança passou horas cercando o perímetro com arame farpado e escondendo o que podiam no porão.

A arte russa, por outro lado, está no centro das atenções por um motivo totalmente diferente: em quatro andares da Fundação Louis Vuitton, projetada por Frank Gehry, em Paris, uma coleção de 200 peças dos irmãos russos Morozov está orgulhosamente exposta por várias semanas. Chamada The Morozov Collection. Icons of Modern Art, a mostra é a primeira dos irmãos fora da Rússia e reúne obras de Van Gogh, Valentin Serov, Pierre-Auguste Renoir, entre outros.

PARIS, FRANCE - NOVEMBER 10 : The building of the Louis Vuitton Foundation is an art museum and cultural center sponsored by the group LVMH and its subsidiaries but run as a legally separate, nonprofit entity as part of its promotion of art and culture in (Foto: Corbis via Getty Images)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Embora a arte pertencente aos russos esteja fora de perigo, o mesmo, é claro, não pode ser dito da ucraniana. E até que a luta diminua, as invasões cessem e os ucranianos possam voltar para suas casas, o futuro da arte será tão indefinido quanto o destino desta guerra. 

*Matéria originalmente publicada na Architectural Digest

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